Ela disse: Walter…

2017 – Conto

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Walter teve uma crise.

Isto aconteceu faz um tempo.

Walter inteligente.

Foi criança inteligente.

Amou e foi amado pelos pais.

Era bom estudante desde pequeno.

Teve o melhor estudo possível.

Estudou e foi estudado pelas instituições de ensino por onde aprendeu.

Inteligente o bastante para conseguir sobreviver sem cometer crime.

Educado, sofisticado, visionário para saber que o esquema era simples.

Esquema cruel e simples.

Eu era amiga dele.

Desde criança eu era amiga dele.

Estudamos juntos.

Crescemos perto um do outro.

Crescemos.

Ele me desejava desde novinho.

Mas eu sabia que eu não era para ele.

Eu também sou esperta.

Ele me idealizava.

Via uma menina e depois uma mulher que não era eu mesma.

Porque eu sei quem eu sou.

Ele ia se decepcionar, e eu não queria de forma alguma ferir o Walter.

Ele era perfeito e correto.

Eu queria e quero o proibido, quero o selvagem.

Enfim queria um homem que não fosse meu irmão.

Na minha cabeça, o Walter é meu irmão até hoje.

Os dias passaram.

Dinheiro foi ganho.

Dinheiro foi gasto.

Sempre fomos companheiros amigos e nos ajudávamos quando acontecia todo o tipo de problema, fosse no trabalho, fosse nos problemas cotidianos.

Euzinha tirei ele de muitas enrascadas e ele fez o mesmo por mim.

Walter continuou estudando e trabalhando.

Eu depois de estudar bastante passei a aprender, cara de pau, as manhas, macetes, malandragens para continuar me mantendo no jogo.

Eu queria e quero até hoje amor, dinheiro e poder.

Sou viciada nisto e assumo sem problemas.

Ao mesmo tempo tenho nojo disto e assumo paradoxos sem problemas.

Mas Walter era mais que eu.

Não sei como pode alguém ser mais que eu, mas ele era.

Admito contrariada e admirada.

Walter era mais profundo.

Profundo.

E Walter foi tão fundo que se perdeu.

Ou talvez descobriu uma grande verdade e começou a beber. Beber e beber.

Já era alto funcionário de um banco famoso quando chegou a este ponto.

Ele era um gênio. Com livros publicados e era uma pessoa que gerou milhões. Manipulou o capital, ações, documentos para grandes empresas.

Por isto, por ele saber demais e saber ficar de boca fechada que ele foi aposentado com 38 anos pelo banco.

Foi aposentado ganhando um salário de uns 12 mil reais por mês.

Muito bem menos do que ele merecia.

A gente morava no mesmo condomínio.

Eu com meu marido e meus filhos que vejo tão pouco mas que mantenho como reis.

Ele após a morte de seus pais sozinho em uma casa enorme.

Mansão.

Nesta época, eu acho que o cérebro do Walter já estava deteriorando-se.

Isto não o impediu de me ensinar como beber e ficar no grau e sobreviver para contar a história.

Ele era engraçado nesta época.

Walter saia a pé da mansão onde tinha um monte de carro caro.

Saía de sandálias, bermuda jeans rasgada, surrada mesmo.

Tipo uns dias sem fazer barba, camiseta de algum time e ia para um boteco que ficava ao lado do condomínio.

Um boteco tipo copo sujo.

Lá ele ficava desde as nove da manhã até as quatro ou cinco da tarde bebendo doses de aguardente.

Tinha vezes que virava noites naquele pé sujo.

Eu levava ele arrastado ao médico quando podia.

Cuidei dele mais do que cuidei dos meus filhos na época.

Mas ele conseguiu ganhar uma bela cirrose.

Numa época em que tudo estava indo muito, muito bem para euzinha, resolvi numa manhã de sábado fresco e azul, passar umas horas com ele naquele copo sujo.

Lá ele me ensinou a fazer coquetéis a começar de baixo teor alcoólico e ir subindo o teor dos coquetéis até quase um êxtase alcoólico e depois ir baixando até dar sono e ter vontade de casa, cama e sono.

Nossos diálogos foram magníficos e teses de doutorado foram escritas graças as ideias desenvolvidas naquele dia.

Você não sabe mas naquele dia, acho que eu e o Walter mudamos o mundo.

Aí fica esquisito.

Eu não entendo.

Walter morreu de cirrose.

Euzinha e uns quatro ou cinco amigos fomos ao enterro.

Como alguém que dominava a técnica de se embriagar tão bem morre de cirrose?

Anos passaram.

Hoje eu entendo.

Minha juventude passou.

Eu venci.

Sou rica pra caralho.

E estou farta!

O tal copo sujo que tinha fechado anos atrás após a morte do Walter…

Eu comprei o terreno e os terrenos ao lado e mandei abrir o copo sujo de novo.

O pior, é que estou ganhando um dinheiro absurdo com ele atualmente.

Eu vou lá todo dia.

Mas vou lá só para beber.

Não falo muito.

Vejo meus filhos passando em carros turbinados.

Vejo meu marido bobo passando com, não sei quem toda noite e nem ligo.

Vou bebendo.

Vou sorrindo.

Aprendi até jogar baralho e aposto.

O chato, é que mesmo caindo de bêbada, eu quase sempre ganho mais dinheiro no jogo do que perco.

Espero que a cirrose venha logo.

Quero saber aonde Walter está.

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Até Breve

😀

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Uma coisa Boa

 

Alguém te ensinou uma coisa boa.

Dizem que a vida é muito curta para uma pessoa viver o mesmo dia mais de uma vez.

Mas se a pessoa depois de analisar 600 dias, escolhe repetir o processo de apenas um destes dias que; para ela foi um dia extremamente feliz?

O segredo estará em agir da mesma maneira de modo que faça acontecer o mesmo dia feliz todos os dias.

O que alguns tolos chamam de rotina, pode ser a felicidade para outros.

Um dia feliz porventura, a pessoa fica numa boa onde está sem arrependimentos fazendo as coisas agradáveis que são possíveis de serem feitas sem reclamar, sem ter expectativas, sem ser tormentas a respeito do que foi, nem do que seria.

Ser feliz agora de qualquer maneira que puder no mesmo lugar, com a mente em paz.

Ai sim.

Ser feliz é reproduzir o mesmo humilde e simples dia feliz todos os dias e nunca, nunca enjoar dele.

Porque enjoar deste dia maravilhoso é abortar a felicidade.

Então João, então Maria, todo dia feliz…

Pense nisto; todo dia feliz pode ser construído e replicado.

Resumindo, todo dia verdadeiramente feliz é o mesmo dia.

Você fez todas as coisas certas e acaba tendo a felicidade por 24 horas.

Amanhã quem sabe?

Você será capaz e construir mais um dia que nem o de ontem?

E você já aprendeu que se ficar andando pelo mundo todo(a) feliz e alegre, logo logo alguém vai aparecer e pelas tuas costas te dar um paulada, ou tiro na cabeça.

Atualmente, esta pode ser a real.

Não tem por que.

Se a única coisa que a pessoa pode controlar são as atitudes que ela toma.

Se a única coisa que a pessoa pode dar a outra pessoa é informação.

Vai tentar então.

Coisa boa é ter um dia feliz.

 

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