Dia_distorcido*

Coisas estranhas acontecem. Dias distorcidos, som de gente que não existe mais ou foi embora.

Uma noite, minha irmã e eu ouvimos passos hesitantes junto com o som de uma bengala, como se nosso avô estivesse subindo as escadas depois do café da manhã de domingo. No entanto, não era manhã de domingo e nosso vovô já tinha morrido! Os sons assustadores pararam quando nossa mãe foi ao nosso quarto, para nos tranquilizar. Mais tarde, porém, soubemos que nossa mãe havia passado a noite toda fora de casa, cuidando de nossa avó, que morreu mais tarde, naquela mesma noite.

Sem saber o que dizer a respeito de coisas enormes, às vezes é melhor arriscar palpites já que nem sempre o que ouvimos corresponde ao que imaginamos ser. Nem sempre o que entendemos com os olhos representa de fato o que se apresenta ao nosso olhar.

Então talvez seja bem sensato pensar que há mais coisas no mundo do que os olhos conseguem enxergar ou que possam ser percebidas pela tecnologia criada pelo homem. Isto é escrito há séculos, mas nunca entendo muito bem e a gente esquece.

Em quase todos os movimentos da vida, é bom ter a mente bem ancorada em algo que ela possa se segurar. Porque as tempestades existem. Estamos a todo momento sendo varridos por elas. E nelas trabalham forças de todo tipo. Ninguém quer ser massacrado por estas coisas, mas isto quase sempre acontece. Gostariam de escolher onde se segurar mas na maioria das vezes se seguram aonde conseguem. Em certos casos é bom estar no alto, em outros o melhor é embaixo do chão.

É melhor as vezes se encolher, como uma bolinha em um canto fingindo que nada acontece, até que por estresse talvez a mente mergulhe e uma nova ilusão e do zero a gente reinicia.

Totalmente limpos, desmemoriados e fora de controle dizemos que não é o dia 999. Hoje é o dia 01.

Diga que não pode e também que não quer acreditar.

E lá vem a distorção começando a mesma coisa tudo de novo.

Reforma Visceral

Nós compramos uma casa velha. Sim. Nós dois compramos.

Ele é responsável pela nova construção – convertendo a cozinha para o quarto principal, por exemplo, enquanto eu estou no serviço de remoção de papel de parede. O proprietário anterior cobriu cada parede com papel de parede de cima abaixo! Removê-lo é brutal, mas estranhamente satisfatório.

A melhor sensação é obter uma casca longa, semelhante à sua pele quando você está descascando de uma queimadura solar. Eu não sei sobre você, mas eu meio que faço um jogo de peeling, em busca de uma tira mais longa antes que ela se rasgue. Sob uma seção de canto de papel em cada sala, está o nome de uma pessoa e uma data.

A curiosidade levou a melhor uma noite, quando eu pesquisei um dos nomes no Google e descobri que a pessoa era realmente uma pessoa desaparecida, a data do desaparecimento correspondendo à data sob o papel de parede!

No dia seguinte, fiz uma lista de todos os nomes e datas. Com certeza, cada nome era para uma pessoa desaparecida com datas a combinar.

Nós notificamos a polícia que naturalmente enviou a equipe da cena do crime. Um monte de aparelhos tecnológicos, químicos e biológicos. Eu a observar sem saber o que dizer…

“Sim, é humano. – Afirmou um técnico.”

“Humano? O que é humano? – Perguntei sem entender nada.”

“Senhora, onde está o material que você já removeu das paredes?”

“O quê? O papel de parede velho?”

“Senhora, o que você estava removendo não era papel de parede.”

Não vou fazer isto por você!

Ah que horror!

"Eu não vou fazer isso por você."
"Eu não vou fazer o que você me diz para fazer!

Essas foram umas frases que eu ouvi mais do que qualquer outra durante a minha infância. Se foi dirigido a mim ou a um dos meus irmãos, não importava. Talvez você tenha tido uma criação parecida, talvez, como eu, tivesse pais e avós que o ensinaram em uma idade jovem a assumir a responsabilidade por seus pensamentos e ações. Talvez você tenha notado a crueldade inteligente que existiu em algum jovem um dia. Eles acham que posteriormente não haverá repercussões e, quando elas acontecem nunca as associam às coisas destrutivas que executaram outrora. Porque o jovem de ontem e de hoje deseja tanto ver, sentir, testemunhar a morte e derramamento de sangue desde que não seja o dele? Por que tantos chegam as vias de fato e na falta de ação, provocam de maneira direta e indireta assassinatos? Por que os que tem sucesso nisto, continuam a fazer de novo e de novo a vida inteira e ninguém nota ou anota? Estas coisas medonhas o que acontece com eles? Simples. Muitos sobrevivem se tornam adultos e o sofrimento se abate sobre eles assim como acontece a todos nós. A única diferença, é que talvez eles mereçam.

"Eu não vou fazer isto por você."

As crianças hoje em dia parecem muito folgadas. E como um homem adulto e pai estabelecido, não é surpresa que eu tenha me encontrado repetindo o mesmo conjunto de palavras para meus próprios filhos.

Quando meu filho mais velho tinha 10 anos, ele teve problemas na escola porque estava discutindo com a professora. Depois de deixar o escritório do diretor nós caminhamos com uma parede invisível de silêncio entre nós.

O diretor decidiu que ele deveria escrever uma carta de desculpas, uma decisão que eu definitivamente concordei. Depois de chegar em casa, sentei-me à mesa da cozinha com um lápis e papel. Ele olhou para eles por um momento antes de olhar nos meus olhos.

"Eu não vou fazer isso por você."

Quando ele fez 12 anos, pegamos um cachorrinho como presente de aniversário. Ele vinha pedindo outro cachorro há alguns anos desde que nosso outro falecera. Minha esposa e eu dissemos a ele que faríamos isto no tempo que ele concordasse em ser responsável por cuidar do cão. Não que não ajudássemos quando necessário, mas vimos isso como uma oportunidade para nos mostrar que ele poderia lidar com isso. Para ele mostrar que era responsável. E assim fizemos e ele também fez como tinha prometido e nós todos, incluindo o filhote de cachorro por algum tempo, fomos uma família quase feliz. Mas mais uma vez ele foi descuidado e deixou alguns doces de chocolate jogados onde o cachorro poderia encontrar. Chocolate é veneno para cachorros, especialmente filhotes. Ficamos todos arrasados. O pior foi pro meu filho.

Nós concordamos em dar ao cão um enterro apropriado no quintal, mas nosso filho não queria ser o único a fazê-lo. Expliquei que isso fazia parte do cuidado com o cachorro, mesmo na morte ele era responsável pelo bichinho. Eu entreguei a pá para ele.

"Eu não vou fazer isso por você."

Então, ontem à noite, eu estava sozinho em casa à noite, quando a campainha tocou. Meu filho, agora um homem jovem, estava na varanda da frente, mãos e roupas vermelhas de sangue. Seu cabelo estava uma bagunça e ele tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.

"Papai eu fiz algo terrível. Eu não queria."

Olhei dele para o carro que ele tinha estacionado em nossa garagem. As faixas de sangue vermelho se destacaram imediatamente contra o branco do porta-malas e do para-choque.

Eu olhei consternado de volta para o meu filho, que agora estava olhando para o chão.

"Vá até a garagem. Moleque maldito, desatento, folgado!" - Rosnei eu amargo me dizendo, não importa o que ou quem.

Eu no fundo, sempre soube que o mal ou uma má pessoa, pode ser muitas vezes a soma de dois ou três pecados que a gente deve se esforçar para não cometer que são:

Não prestar atenção nas coisas, não aprender com os erros, ser desleixado, preguiçoso e fechar os olhos evitando fazer o certo (seja lá o que isto signifique).

Peguei algumas coisas no quarto de ferramentas e saí para encontrá-lo. Ele havia parado de chorar.

Eu derrotado entreguei a pá para ele. Olhamos para o gramado e para a pequena horta de 2x4 que eu cultivo.

"Eu não vou fazer isso por você."

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Até Breve!

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Dicas sugestões e até mesmo críticas construtivas são muito bem-vindas!

🙂

A verdade de coração

semanickz

Devorando de coração

Ela já havia encontrado o anel de noivado escondido na gaveta de meias dele. Era de se esperar a moça dizer isto. Resolvi continuar em silêncio escutando ela contar sua história. A pequena mentira em que acreditava. Ela fala, eu escuto. Sei que inevitavelmente no final, chegarei temporariamente a alguma conclusão.

Agora ele estava me levando em uma escapadela romântica de fim de semana. Um piquenique na base de uma cachoeira. Era para ser o melhor dia da minha vida, mas agora ele está morto e é tudo culpa minha. Eu estava pronta para dizer sim. É tudo em que consegui pensar no caminho pelo parque estadual. Minha família nunca pensou que duraria, mas eu ia provar que eles estavam errados. Papai o chamava de um garoto bonito, e toda vez que ele via uma princesa da Disney, ele apontava e perguntava: "Ei, esse não é o seu namorado?" Eu apenas sorria e revirava os olhos. Eles pensavam que só porque ele era bonito é que eu estava com ele, que eu estava sendo superficial, mas ele era muito mais do que isso. Ele era gentil, inteligente e engraçado, e ainda mais importante, ele me fazia sentir exatamente como eu merecia. Porque eu sou muito bestinha. Insegura na alma eu desconfio direto. Preciso que alguém me faça sentir princesa, em vez de ir a luta por mim mesma e ver se conseguia ser verdadeiramente uma.

Tudo estava perfeito naquela noite, exceto eu. "Algo" dos Beatles tocava em um aparelho de som portátil, e uma dúzia de velas estavam espalhadas no chão ao nosso redor. Havia champanhe em um balde de gelo, estrelas no céu e o amor da minha vida saindo de sua cadeira para cair de joelhos.

"Hmmm", provavelmente não era a resposta que ele esperava. Não era o que eu estava esperando dizer, mas foi o melhor que eu pude fazer.

- Hmmm? - Ele perguntou incrédulo. - Eu não dirigi todo o caminho até aqui por um hmmm.

Eu estava congelada. Eu ensaiei este momento mil vezes na minha cabeça, mas meus anseios não me prepararam para o terror ofegante do momento real. Tudo o que eu conseguia pensar era nas palavras do meu pai, imaginando se era apenas a aparência dele que me atraía. Daqui a dez anos, quando ele ficar careca e gordo, eu ainda acharei suas piadas engraçadas? Quando tivermos filhos e momentos românticos como esse forem substituídos por tarefas e rotinas diárias, ainda vou olhá-lo da mesma maneira? Ou ainda mais provável, e se ele ficasse entediado de mim?

“Hmmm,” Disse novamente.

“Inacreditável.” - Disse ele. “Fodidamente inacreditável.”

“O quê? Eu não disse não!”

- Você não precisava. - Ele não estava mais ajoelhado. Ele nem estava de frente para mim, apenas olhando para o vazio da noite.

- É uma questão séria! - Eu poderia ter dito sim, mas me senti obrigada a me defender. - Não há nada de errado em tirar um momento para refletir, pensar sabe?

- Leve o tempo que precisar. Eu vou caminhar.

Mais uma vez tive uma chance. Eu poderia correr até ele e abraçá-lo e dizer - Claro, que quero passar minha vida com você! Mas bastou que ele desse alguns passos para sair da escassa luz das velas, eu comecei a me recompor.

O CD terminou de tocar e consegui distinguir um estranho som borbulhante separado do barulho de cascata. Minha respiração rápida ficou bem alta, mas não abafou o sussurro murmurante da água escura.

“Querido? Você ainda está aí?”

O sussurro ficou mais alto - uma voz rouca e baixa que não soava como ele, vindo logo além do anel de luz. Eu não conseguia entender cada palavra, mas algumas eram inconfundíveis.

“Hmmm… Sua dúvida… seu medo… delicioso.”

Essa última palavra soou com particular clareza, prolongada e saboreada como se cada sílaba fosse provada.

Ele estava usando um truque para me balançar um pouco. Isso significava que meu querido não poderia ter levado minha hesitação muito a sério. Eu respirei um profundo suspiro de alívio, mas não tive a chance de exalar completamente antes de ouvir o estalo de galhos. Então, um palavrão abafado - todo o caminho até a colina em que havíamos caminhado.

“Querido, é você?” Eu chamei, minha própria voz tão fraca e insignificante sob a pressão das florestas que se avultavam ao meu redor. "Volte! Vamos conversar.”

- Tudo bem. Estou chegando. - Isso foi da colina novamente. Então não tinha sido ele.

"Eu posso te mostrar", sibilou o sussurro. Uma agitação de movimento atrás de mim. Eu girei bem a tempo de pegar algo como uma lesma longa desaparecendo além da luz. Ah meu Deus, será que estou em um delírio de Lovecraft - Pensei meio anestesiada de medo.

“Eu posso te dizer o que ele sente,” o sussurro veio do mesmo lugar. “Eu posso dizer o que ele realmente quer, e se você pode dar a ele.”

Eu ouvi meu namorado tropeçar - ainda a uma distância razoável de onde eu estava.

- Ok, sim. - Eu disse sim, desperdiçando a benção que é a ignorância relacionada a quase tudo neste mundo.

Se um som pode se enrolar como um sorriso, é exatamente isso que o chiado fez. Então desapareceu, sua sombra quase imperceptível escorregou para a escuridão mais profunda.

"Espere, eu estou quase aí", meu lindo homem gritou da mesma direção.

- Meu querido cuidado! - Gritei sem pensar direito. - Há algo perigoso aqui!

Seu grito oprimiu a água que espirrava e encheu o céu de horizonte a horizonte. Tortuoso, gutural e longo o suficiente para que ele parasse para respirar e começar a gritar de novo.

Eu estava correndo em direção a ele o mais rápido que pude, mas fiz um progresso lento assim que entrei na escuridão. Eu continuei tropeçando em rochas escondidas ou cegamente derrapando através de vegetação rasteira, liderada por nada fora seus gritos, que pareciam durar para sempre.

Mas para sempre é um sonho do qual todos são forçados a acordar, e ele ficou em silêncio no momento em que o encontrei. A lesma que vislumbrei repousou em seu peito, pulsando enquanto se enterrava na sua cavidade de peito esfolada. Era tão largo quanto um tronco de árvore, talvez com um metro e meio de comprimento, talvez mais dependendo de quão profundamente aquilo se movia dentro do corpo dele.

- Você ainda quer saber? - O sussurro veio da extremidade livre da lesma. - Tudo o que ele sabia, tudo o que ele sentia, seu coração não está escondido de mim.

Seria errado ouvir esse monstro que se deleitava com ele? Ou pior, seria desrespeitoso se afastar e perder para sempre seus pensamentos finais? Pela segunda vez naquela noite, eu estava congelada e não disse nada.

"Eu posso provar sua admiração", refletiu a criatura. “Desde a primeira vez que ele viu você, sentada sozinha lendo um livro. O foco inteligente em seu rosto - a maneira como a luz tocava seu cabelo - ele observou você por quase uma hora antes que ele criasse coragem para dizer olá."

"Ele nunca me disse que estava assistindo ..."

"Eu posso provar o seu amor", ele assobiou. “O frescor de seu coração, me enche. Suficiente para suportar cem anos de adversidade. Até a noite no final de todos os dias, quando a idade roubar tudo, menos a graça do seu espírito, ele teria amado você."

Eu tive que ouvir isso. Mesmo chorando, eu não fugiria. Este foi meu consolo e minha punição. Dois em um. O monstro ficou em silêncio por um longo momento antes de dizer:

“Eu amo você também.”

Foi choque suficiente para suspender meus soluços ofegantes.

"Com tudo o que ele era, eu sou", sibilou. "Eu te amo com todo seu coração."

A criatura pulsou. Então, novamente, a ondulação subindo e descendo pela sua massa carnuda enquanto se contorcia. O coração estava à vista, cru e úmido e ainda batendo onde estava agarrado na boca da criatura. Então, engolindo, o coração desapareceu ainda batendo todo o caminho.

"Estou de volta", disse a segunda boca, falando com a voz do meu amor tão clara quanto ar da montanha. "Vamos começar de novo, ok? Não pense demais. Não faça suposições. Não tenha medo. Você quer se casar comigo?"

Eu comecei a chorar de novo. "Sim querido. Claro que sim. Sempre foi sim.”

Eu não iria perder o amor verdadeiro duas vezes em uma só noite. Além disso, talvez agora papai finalmente cale a boca só por amá-lo por sua aparência.

Assim ela terminou a história dela. Mais uma vez. Talvez em um outro mundo um dia ela pudesse. Eu me afastei sem dar as costas e tranquei a porta resistente deixando-a no conforto de sua camisa de força em sua cela acolchoada. Talvez ela até pudesse, se as coisas fossem diferentes. Dizem que tudo é possível hoje em dia. De vez em quando, garotas bonitas também calham de ser psicopatas e por onde passam, vão deixando tudo sujo. Despedaçam e comem de coração. De coração.

horror+stories+blogs

Dicas e sugestões são muito bem vindas.


Até Breve!

🙂

Bebendo o Morto

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Em um mundo com diversos continentes, diversos países com diversas culturas divididos em Estados cada um com uma cultura peculiar, cada Estado com regiões e cada uma destas regiões com tradições e culturas especiais; calhou de haver um lugar neste mundo, onde celebrar o morto, beber em homenagem a um ser que morreu acreditarem  que ao beber o morto, uma das pessoas a beber pode virar instrumento.

Beber o morto dá direito ao falecido de desfrutar da embriaguez através do corpo das pessoas que bebem.

O morto, tem ainda o direito de entre todas as pessoas a beber, escolher uma específica para realizar um último ato na terra antes de voltar ao lugar onde estava antes de nascer.

Há mortos que fazem coisas lindas, recitam poemas, contam histórias que o povo e o mundo esqueceu.

Outros cantam músicas tão belas que só poderiam ter sido compostas por anjos de luz.

Mas em certos casos, não é iluminado quando alguma coisa aconteceu de errado e o morto morreu injustamente, contrariado, atraiçoado, assassinado, espancado, estuprado, etc…

Não são muitos que ousam aparecer para beber, e quem bebe em homenagem a este tipo de morto o faz em nome da justiça que as autoridades o diabo e nem deus, foram capazes de conceder ao falecido(a).

Bebem o morto ao cair da tarde e o morto tem até o amanhecer do outro dia para resolver coisas inacabadas.

Isto se a pessoa escolhida, continuar bebendo até o outro dia.

Pois então, assim geralmente quem morre, pode resolver suas pendencias com quem lhe deu a morte.

É o que quase sempre acontece nesta situação.

Muitas vezes o escolhido pelo morto é rapidamente identificado e enjaulado até o sol nascer.

Os entes queridos o escutam e tomam notas, o acalmam da melhor maneira que podem.

Porém, todavia acontece do morto ser esperto e as pessoas não conseguirem identifica-lo, até que seja tarde demais.

Quando isto acontece, quase sempre é um banho de sangue.

Porém todos do lugar sabem que os mortos não se enganam e toda vida, todo corpo que tomba na poeira desta celebração teve o que mereceu sem sombra de dúvida.

Os que morrem, na mão do morto, neste dia também tem o direito de serem celebrados mas, a maior parte das pessoas não gosta de beber em homenagem a assassinos covardes ou pessoas que roubam e cometem qualquer tipo de crime.

Isto porque este tipo de morto(a) chora, hora late como os cães, hora comporta-se como porco e lamenta que logo o dia amanhece pois o lugar que os espera apos a morte, é deveras desagradável.

Uma das histórias mais incríveis, é sobre beber um morto trucidado injustamente e sua vingança usando o corpo de outrem.

Esta história eu sei, e quem sabe um dia, vou te contar.

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Até Breve

Muita coisa

2017

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Olha, eu não posso te dar muita coisa.

Você sempre quis muito.

Sempre quis o mundo e o fundo.

Mas o tempo passou e você tá mal.

Eu não posso te dar muita coisa.

Mas eu posso ter dar um bom prato de comida.

Eu posso te dar alguma coisa para beber.

Tem uma cama sobrando e nela tu pode dormir hoje.

Se tiver frio tem uma coberta limpa pra te aquecer.

No banheiro tem uma escova de dentes na caixa.

Tem um sabonete.

Tem uma toalha limpa.

O chuveiro tem água morna.

Eu tenho milho sobrando.

Eu tenho uns pedaços de queijo.

Eu tenho um pouco de verdura.

Uns pedaços de carne macia.

Não tem bicho na casa, eu usei ectoplasma pra afastar eles.

Só de esquisito aqui, é eu este fantasma.

Vou te dando o que você precisa sem você saber.

Eu vou abrir as nuvens do céu na madrugada.

Quando você acordar, será um dia lindo.

Você se sentirá bem e animado(a).

Aí você vai embora desta casa assombrada e encontrará teu destino.

E eu estarei contigo.

As vezes teu bem.

As vezes teu mal.

 

fim.

Algo está em frente a porta

 

Era pessoa nova.

Jovem.

Aconteceu quando era jovem.

Era de noite.

Escura, morna e calada noite.

Grilos a tritrinar.

Pio de ave noturna.

Vento brincando com galho, ramo e folha lá fora.

Ruido incomum me acorda.

No meu quarto.

Porta do toalete está aberta.

Uma figura delineada pela luz do banheiro me observa.

Totalmente escura emanando fluorescência dos olhos.

Não era ninguém que conhecesse, mas chamei por nomes de familiares.

Chamei uma, duas, três vezes e nada.

Mandei partir.

Gritei uma, duas, três vezes e nada.

Aquele escuro esboçou um movimento.

Berrei por minha mãe, meu pai e por tudo que é mais sagrado.

Socorro!

Aquilo lançou-se rugindo sobre mim, no mesmo instante em que me levantei e num ato contínuo, atirei-me pela frágil janela do dormitório.

Cai sobre o telhado.

Rolei pelo telhado.

Aterrissei de quatro na varanda.

Feri a testa, trinquei um cotovelo, quebrei um dente.

As luzes da casa acenderam-se.

Todo o meu povo saiu correndo para fora acudir.

Meu avô levou-me ao hospital.

Atarantado, o velho chorava e grasnava.

Profundamente me amava.

Os outros ficaram pra encontrar e destruir aquele demônio que estava na minha porta.

Não acharam nada.

A gente não pode chamar de algumas manchas negras de sujeira fedida no chão do meu quarto de alguma coisa.

Melhorei.

Demorou um tempo, mas melhorei.

Anos passaram.

Melhorei.

Ainda moro lá.

Poxa, o pai do meu avô nasceu lá.

Eu também.

Nunca mais vi a figura.

Mas a sombra por trás do meus olhos me diz que estamos sendo observados, e aquilo é imune ao tempo.

Realmente não sei o que era.

Digo que é um demônio.

Digo que um dia vai voltar.

Vai encontrar uma pessoa bem mais preparada.

Eu luto.

Sempre lutei.

Posso perecer.

Todo mundo um dia se dana.

Mas perecerei do jeito que eu gosto.

Tentando descer o cacete naquela coisa ruim, trevosa, pestilenta e inatingível.

 

 

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Até Breve

 

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