Cheguei a um hotel barato. Paguei como de praxe uma diária adiantado.
Um dos problemas em alugar quarto de hotel barato que não exige depósito de cartão de crédito é o bairro. Seja periferia ou centro, o entorno desumano quase sempre oferece quatro opções ambientais. Ou é muito frio, muito quente, muito seco ou enlameado. Sem chance para meio termo. Eu prefiro os do centro.
Já estive em centenas de quartos de hotéis como este, e posso dizer que praticamente são todos basicamente iguais não importa se a fachada é ajeitada ou não, é ordinariamente em uma área degradada no centro da cidade.
Edifícios tortos, arquitetura lascada, uns sinais de néon; este espaço quando contornado por uma área comercial mais nova e mais atual a algumas quadras; é postergado em detrimento da nova.
Faz parte do esquema da especulação imobiliária.
A área mais nova tem o metro quadrado mais caro. Construções de concreto, muito vidro. Calçadas mais largas. Nova iluminação. Melhor no geral para a cidade, mas difícil para as empresas que não podem se dar ao luxo de sair da localidade postergada.
Começa então uma decadência naquele abandono. Acontece porque os impostos da cidade estão sendo direcionados para a nova área de interesse, à medida que as partes mais antigas murcham devido à falta de investimento.
Geralmente neste infortúnio, o crime toma conta da parte abandonada pela administração.
Tráfico de drogas, sequestro, quadrilhas, roubos, extorsão, gentes que trabalham por pagamentos mínimos, pessoas carentes, etc.
Mas se você é alguém que vem de longe e não quer ser encontrado, pode ser que um lugar destes venha a calhar.
Um lugar abandonado para um andarilho que não deseja ser encontrado.
Sabe, há um velho ditado que diz que o crime não descansa.
Mesmo num dia de feriado. Um dia especial, como o de hoje. Mesmo com o céu noturno repleto de nuvens geladas e baixas. Mesmo quando uma garoa fria está mantendo a maioria das pessoas dentro de casa. Mesmo sem som de sirene, helicóptero, nem avião; ainda tem pipoco.
Então, quando dei a volta na esquina, soube em um instante o que tinha acontecido o que ia acontecer, e não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso.
Um homem com cabelos rebeldes, estava parado na calçada, com um surrado sobretudo cinza escuro, segurando duas pesadas sacolas de supermercado. Encarando-o tinha um cara baixo e mais jovem. Cabeça raspada, roupas largas, pele escura, apontando uma arma para o cara do sobretudo. Eles estavam a uns dois metros de distância um do outro. Eu estava a doze metros de distância deles. Muito longe. Eles me viram. O cara com a arma se virou, apontando para mim, com a fuça levantada. O cara do sobretudo soltou todos os quatro sacos e se lançou. O cara mais novo mirou a arma de volta para ele e eu ouvi um tiro abafado quando seus corpos colidiram. Os dois caíram na calçada escura, suja e molhada, com o de sobretudo por cima. Eu os alcancei em três passadas rápidas bem quando eles atingiram o concreto. O cara com a cabeça raspada estava deitado de costas, lutando para apontar a arma pro cara de sobretudo. Ele parecia assustado, eu podia dizer pela expressão no seu rosto, que ele sabia ter feito a escolha errada de em qual cara atirar. Esmaguei sua testa com a palma da minha mão. A parte de trás de sua cabeça bateu do cimento com um ruído como um pedaço de madeira. Ele ficou mole. Eu rolei o cara do sobretudo de cima dele, vi seu rosto. Os olhos estavam abertos e ele estava ofegante. Abri a parte da frente do casaco dele, procurando por uma ferida de entrada. Eu a encontrei alguns centímetros acima de sua linha de cintura, logo à direita dos botões de sua camisa. Sangue brotou, a mancha escura se espalhando pela camisa branca. Ele tinha um celular em um pequeno suporte preso ao cinto. Eu o peguei, abri. Usei meu polegar e digitei 9-1-1.
Três toques, então alguém atendeu. Voz de tédio.
"9-1-1, qual é a natureza da sua emergência?"
"Tenho um cara aqui, ferida de bala, parte inferior direita. Localizado a sudeste de ..." Fiz uma pausa para verificar as placas da rua, "... Principal e Primavera".
"A ajuda está a caminho. Qual é o seu nome, senhor?"
"Não importa. Há também um cara com uma provável concussão ..."
O cara da cabeça raspada estava mexendo. Eu desmontei o telefone. Coloquei na calçada, e bati de novo na testa dele com a parte inferior do meu punho. Talvez um pouco mais duro do que da primeira vez. Pareceu dar certo.
A arma estava no concreto entre os dois caras, então eu puxei meus dedos para dentro da manga do meu casaco e usei o punho como uma luva para pegá-lo. Era um pedaço de lixo nove milímetros semiautomático. Eu ainda estava ajoelhado ali, segurando a arma, quando um cupê cinza rebaixado com janelas escuras - um Acura talvez, ou um Honda - apareceu na rua. Sonoro, acelerado, diminuindo a velocidade até dar com a gente na calçada. Um cara com a cabeça raspada e um rosto marcado por bexigas sentou-se no banco do passageiro da frente do carro, a janela aberta, olhando para mim através de um espaço de dez pés entre os carros estacionados no meio-fio. Seus olhos voaram para a arma na minha mão, fizeram uma rápida varredura para cima e para baixo da rua, depois voltaram para os dois homens no chão. Ele disse alguma coisa ao motorista e o cupê acelerou um pouco, seguiu pela rua, o cara do lado do passageiro virando a cabeça para me encarar até que outros carros estacionados bloqueassem sua visão e a minha. Depois de alguns momentos, vi o carro virar a esquina no fim da rua. Eu coloquei o 45 ralé ao meu lado. A respiração do cara do sobretudo estava um pouco mais irregular agora, seus olhos fixos em mim. Havia pânico neles.
"Isto tira o fôlego da pessoa, não é?" Eu disse. "É ruim?" ele ofegou. Sua respiração era visível. Apesar de nada ser garantido, disse o sempre util "Você vai ficar bem". Notei uma mancha de sangue saindo de debaixo dele. Segurando seu cinto e cós com uma mão, levantei seu quadril para olhar embaixo dele. Havia um buraco manchado na camisa e no sobretudo também. Tiro limpo. "Você tem sorte pois além dele ter te atravessado, ser um de nove milímetros", eu disse a ele, mais para ajudá-lo a ficar consciente do que qualquer coisa. "No exército, costumávamos dizer que um nove milímetros era de nada". Conversa fiada. Brincadeira fácil, destinada a oferecer tranquilidade e talvez atrasar ele entrar em choque porque , uma bala de 9mm que se fragmenta dentro do corpo, é quase sempre morte certa e um tiro limpo é coisa rara. "Eles precisam desses perus na missão", disse ele. "Eles precisam de tempo para descongelar para que possam ser cozidos amanhã". Ele tentou se acotovelar na calçada. "Uau, amigo", eu coloquei minha mão em seu ombro e o segurei. "Você só se concentra em aquietar aqui até que a ambulância apareça."
Outro homem chegou, ajoelhou-se ao nosso lado. "Sou médico", ele disse. "Deixe-me ajudar. O que temos?"
"9mm, um só tiro, entrou aqui, saiu do lado de lá", indiquei. "Não está sangrando muito forte ainda. Ele não vomitou nenhum sangue também."
"Bom", disse o médico. "Você pode encontrar algo para colocar sob os pés dele ?"
Do agressor tomei algo que pudesse confortar a vitima. Peguei a jaqueta folgada do rapaz mais jovem de cabeça raspada, expondo tatuagens elaboradas que cobriam-lhe os dois braços. Ele não usava nada além de uma camiseta por baixo do casaco. Ele tinha a aparência de um tipo violento mas covarde, que algumas pessoas chamam de "espancador de mulher". Eu rasguei uma manga da jaqueta e a dobrei sob a cabeça do baleado. O ajudante enrolou o resto da jaqueta e enfiou-a sob os pés e acenou com a cabeça. "O que aconteceu com este outro?"
"Ele caiu", eu disse. A garoa estava fazendo a camiseta do garoto atirador grudar em seu corpo. Eu não me importei.
"Eles ... eles precisam dos perus na missão", o ferido disse novamente. Ele estava tremendo agora. À distância, ouvi uma sirene.
"Você sabe onde está a missão?" Eu perguntei ao médico.
"Dois quarteirões para baixo na Primavera, à esquerda na primeira rua, à direita no templo. Na metade do quarteirão, lado leste do templo."
"Eu vou levar esses perus para lá. Voltarei e darei uma declaração para a polícia."
"Qual é o seu nome", o médico me perguntou.
"Noname".
"Bem, Noname, se eu fosse você, eu não voltaria. Ve as tatuagens nos braços do garoto lá? Ele é de gangue. A gangue mais desagradável da área. Não é o tipo de pessoa que você quer com raiva de você. Se teve alguma coisa a ver com ele "cair", você está melhor longe daqui. Deixe esses perus, diga a eles o que está acontecendo e de o fora deste buraco. Eu posso lidar com as coisas aqui."
A sirene estava se aproximando.
"Tem certeza?"
"Sim. Vá em frente."
Eu juntei as quatro malas. Um peru por bolsa, sacos duplos na verdade, dois sacos duplos em cada mão, da mesma forma que o cara com o sobretudo os carregava. Minhas mãos eram grandes demais para os laços, então usei meus três dedos do meio em cada um. Comecei a descer a Primavera na direção indicada pelo médico.
Eu estava um pouco familiarizado com estas novas gangues. Seus membros começaram a aparecer no corpo do Exército durante o último ano ou dois do meu tempo lá. Soldados com laços tribais. Psicopatas que estavam sendo treinados por nós e após nos servirem excepcionalmente em missões pelo mundo todo; levavam o treinamento de volta aos barrios para usar contra outras gangues e agentes da lei.
Os deste lugar, representavam uma gangue que começou originalmente em Los Angeles nos anos 80, na época formada principalmente pelo pessoal da América Central que buscava se proteger das gangues mexicanas e afro-americanas da área.
Agora eram uma organização internacional, ainda majoritariamente da América Central, em etnia. A tendência de seus membros para a violência extrema lhes rendeu recrutamento por um cartel mexicano, em guerra com Los Zetas, ao sul da fronteira.
Eu cheguei no lugar onde vi o cupê cinza virar a esquina. Não vi o carro. Atravessei a primeira e depois cruzei a Primavera a caminho do Templo.
A rua fria, estava oleosa, úmida, deserta. Havia alguns carros estacionados ao longo do meio-fio. Um carro ocasional passava na rua, os pneus assobiando no asfalto molhado ou batendo nos buracos. Os laços nos sacos de plástico dobrados cavaram a carne dos meus dedos e eu mudei o aperto de cada mão para aliviar a pressão. Cada saco duplo dos quatro tinha um grande peru congelado. Cada peru pesava pelo menos quinze libras ou seja, quase sete quilos. As trinta libras (14kg) que eu carregava em cada mão não tinham peso algum, mas a carga transformou as alças de plástico em algo mais próximo de arame espesso do que de plástico flexível. Eles foram projetados para levantar sacos de carrinhos de compras para dentro dos bagageiros dos carros, não transportar perus congelados pela rua a pé.
Na metade do quarteirão em direção ao Templo, ouvi o chiado de pneus subindo a rua atrás de mim. Eu olhei para trás e vi o cupê cinza. A janela do lado do passageiro estava abaixada. O cano preto de um rifle se projetava alguns centímetros além do molde de borracha. O motorista percebeu que eles tinham sido vistos e o escapamento uivava enquanto o carro acelerava, o cano do rifle aparecendo mais para fora da janela aberta. Eu girei com os perus e corri de volta quatro passos para um SUV estacionado. Estava contra a roda da frente quando as balas começaram a bater no carro e arrebentar as janelas do veículo. Pedras de vidro de segurança quebrado explodiram pela calçada e deslizaram por cima do capô do SUV, chovendo nos meus ombros e cabeça e descendo pelo colarinho da minha jaqueta. As explosões da arma - distintamente uma AK-47 - ecoaram pela rua, saltando loucamente para frente e para trás, amplificadas pelos prédios. Fogo rápido, mas não automático. Uma bala por um aperto do gatilho. Armas automáticas não são tão comuns entre as gangues de rua como a mídia relata, mas a quantidade de tiro foi suficiente para me manter imobilizado, isso era uma certeza. O alarme no SUV estava gritando. Os tiros estavam rasgando completamente o veículo, detonando o metal da porta do passageiro à minha direita, mas o grande bloco do motor embaixo do capô impedia que as balas penetrassem o suficiente para me atingir. Ter a nove milímetros ralé teria sido um pouco de conforto, mas eu a deixei ao lado do membro da gangue inconsciente dois quarteirões atrás. Eles não conseguiam dirigir para a frente e conseguir um melhor ângulo na minha posição, porque havia outro carro - um Toyota Corolla - estacionado no meio-fio a dez metros de distância, o que impedia que a tática fosse eficaz. Eles não podiam realmente me ver. Para ter certeza de que eu estava morto, eles teriam que mandar o atirador para fora com uma arma. Pelo menos eu esperava que eles o fizessem. O tiroteio parou. Eu ouvi a porta do passageiro do cupê abrir. Eu respirei fundo e me movi para a esquerda. Saí de trás do capô do SUV. Bem na frente do cara saindo do carro com uma Glock na mão. Doze metros de distância, que bela coincidência. Executei um rolamento terminando no meu joelho esquerdo com a perna direita estendida para a direita e um peru congelado nas mãos. O cara não estava esperando que eu aparecesse na frente dele daquele jeito e seu atraso de tempo de reação lhe custou caro. Eu atirei o peru diretamente em seu rosto com as duas mãos, duro, como se eu estivesse passando uma bola de basquete por toda a quadra em vez de doze pés na minha frente. Ele não teve chance. O peru o atingiu como uma bola de boliche congelada de quase quinze quilos. Foi espetacular. Por pouco não tirou a cabeça dele. Seus pés voaram no ar como se um tapete tivesse sido arrancado debaixo dele. Segui o peru e antes que o motorista tivesse a chance de perceber o que havia acontecido, estiquei meu braço direito até o carro e o agarrei pela garganta. Tive um vislumbre de outro cara com a cabeça raspada no banco do passageiro traseiro, os olhos arregalados em choque. Eu puxei o motorista para fora do banco do passageiro e ele bateu na rua molhada de peito ao lado do atirador. Eu levantei meu pé direito e dirigi o calcanhar para baixo, bem entre suas omoplatas, com todas as 250 libras (113kg) de mim. Pisei cada centímetro cúbico de ar de seus pulmões. Algo em seu peito estalou com o impacto. Eu girei para a direita e com o fundo do meu punho, eu bati na pequena janela do passageiro traseiro do cupê. O vidro explodiu para dentro. Usando as duas mãos eu alcancei e peguei a camisa de flanela folgada do terceiro cara enquanto ele se atrapalhava para tirar uma pistola de seu cós e puxá-lo através da janela. Levantei-o sobre minha cabeça enquanto ele gritava "NÃO-NÃO-NÃO-NÃO ..." e o bati de costas ao lado do motorista e do atirador, com força suficiente para sacudir a cabeça duas vezes na calçada. Duro o suficiente para que um de seus sapatos voasse e sua pistola salta-se pela rua. Fiquei lá sacudindo o vidro da minha jaqueta com o peito arfando de esforço, olhando para os três caras deitados na rua. Tempo decorrido estimado do primeiro tiro até o terceiro cara na rua: onze segundos.
Eu tinha certeza que o primeiro cara que eu acertara com o peru, o atirador, ainda estava vivo. Usei novamente o salto do sapato e quebrei os dedos em ambas as mãos tatuadas. Viraram hambúrguer no asfalto. O motorista tinha uma espuma ensangüentada saindo pela boca. Eu fiz o mesmo com as mãos dele. O terceiro cara era apenas um adolescente. Eu o deixei do jeito que estava. Ele teria uma concussão infernal. Se sobrevivesse.
A rua ainda estava deserta. Ninguém saiu para ver sobre o tiroteio. A experiência ensinou-os a esperar. Peguei a Glock do atirador e desci a rua para pegar a pistola do terceiro cara, também uma Glock, uma G19, a nove com o cano de quatro polegadas. O G17 full-size do atirador ainda tinha uma bala. Larguei a revista e deixei a arma pronta para ação. Peguei a ronda da rua e verifiquei a outra Glock. Mag completo, mas nada na câmara. Provavelmente este foi o motivo do garoto entrar em pânico e se atrapalhar - ele sabia que teria que carregar uma rodada antes de poder usar a arma. Coloquei precavido as duas armas nos bolsos da minha jaqueta, uma de cada lado.
Eu peguei o peru que joguei e tentei limpá-lo na minha jaqueta. Ainda estava congelado e parecia muito bom, na verdade. Eu ensaquei de novo e peguei os outros três. Um peru por saco duplo. Dois conjuntos de sacos duplos em cada mão.
A missão estava exatamente onde o médico disse que seria. Havia uma cruz na janela delineada com uma luz de neon. Uma placa atrás do vidro sujo dizia: "Jantar da Turquia - dia de Natal". Eu coloquei um dedo na maçaneta da porta e abri a porta. Uma campainha soou em algum lugar lá dentro. Eu tive que virar de lado para atravessar a porta com os perus. Me encontrei em uma espécie de área de lobby com uma escada em uma extremidade. Havia um balcão exatamente igual ao do saguão do hotel onde eu estava hospedado, a poucas quadras. O prédio provavelmente fora um hotel de uma só vez, fora dos negócios, assim como muitos outros no bairro. Atrás do balcão, uma escrivaninha ladeada por armários de aço cinza estava de frente para a parede dos fundos. À esquerda da mesa, uma porta se abria para um corredor e, do fim do corredor, uma voz de homem dizia: "Só um minuto, eu ajudo".
Eu fiquei lá com os perus, pingando água no piso de madeira, e em menos de um minuto, um cara com um longo rabo de cavalo cinza saiu de uma porta no final do corredor e veio para a frente. Ele era magro como um trilho, quase tão alto quanto eu, com todos os braços e pernas, usando um suéter cinza solto e desabotoado sobre uma camisa vermelha. Um par de óculos de aro de aço dava aos olhos uma aparência de coruja, e um nariz grande e viciado não ajudava em nada. Ele parou do outro lado do balcão quando me viu.
"Você não é Phillip", disse ele.
"Phillip é um cara da sua idade? Sobretudo cinza escuro?"
"Sim, ele foi buscar os perus há uma hora."
"Ele teve alguns problemas com um de seus moradores a algumas ruas daqui. Ele me pediu para trazer isso."
"Problema? Que tipo de problema?"
"Uma pessoa tentou roubá-lo e ele levou um tiro. Provavelmente está a caminho da sala de emergência agora."
"Phillip foi baleado? Onde? Ele está bem?"
"Entre a Principal e Primavera". Estava consciente quando e os paramédicos estavam quase lá. Eu ergui um pouco os sacos de perus. "Existe algum lugar que você quer que eu coloque isso?"
O cara deu a volta no final do balcão e gesticulou de volta pelo corredor. "Apenas leve-os de volta para a cozinha." Ele empurrou a porta de entrada e correu pelo Templo em direção ao Primeiro através da garoa que agora quase se tornara chuva legítima. Eu naveguei ao redor do final do balcão com os perus e segui pelo corredor estreito. Eu tive que segurar dois sacos de perus na minha frente e duas malas atrás de mim. O corredor se estendia por dez metros e se abria para o que parecia ser uma sala de jantar. Vi longas mesas e cadeiras dobráveis alinhadas em um piso de concreto. No meio do corredor havia duas portas abertas, uma em frente à outra. Vindo da porta à direita, ouvi o que soou como coisas deslizando e sendo empilhadas. O cheiro de pão assar me lembrou que eu não tinha comido ainda hoje. Eu pisei na porta. Havia aparelhos de aço inoxidável com aparência industrial em todo o perímetro da sala - fogões, pias, combinações de geladeira / freezer, bancadas. No centro da sala ficava uma grande ilha com uma bancada de madeira e uma prateleira de utensílios acima dela. A bancada da ilha estava cheia de latas, caixas e sacos de feijão, arroz, farinha e açúcar. Uma mulher pequena e magra vestida de jeans e um moletom preto com capuz estava na ilha de costas para mim. Seu longo cabelo escuro tinha um pouco de ondulação, como se tivesse usado em uma trança na noite anterior. Ela estava vasculhando os suprimentos na bancada e os despachando em algum tipo de lista em uma prancheta. Sacudi os sacos um pouco para farfalhar o plástico. A mulher se virou. Seus olhos se arregalaram por um momento quando ela me viu assomando na porta, mas então ela notou as bolsas com os perus e relaxou um pouco. Ela era hispânica, com pele castanha lisa e fantásticos olhos longos. Olhos que ainda mantinham um pouco de cautela.
"Você não é Phillip", disse ela com um leve sotaque.
"Certamente", eu disse. Ela sorriu. Ela tinha um grande sorriso. Foi tão bom que acho que os perus começaram a descongelar apenas em frente a ele.
"Vá em frente e traga os perus para cá." Ela liderou o caminho para um balcão de aço inoxidável. Onde está Phillip? ", Ela perguntou enquanto pegava as sacolas de mim uma de cada vez e as colocava no balcão. Notei que ela não tinha nenhum tipo de aliança em seu dedo anelar.
"Ele foi roubado depois que ele pegou esses perus." Ela parou de se mover, seus olhos focados nos meus, nós dois segurando a última bolsa juntos, mas ela não disse nada. Suas pequenas mãos marrons estavam quentes contra as minhas. "Eu entrei nisso ao dobrar uma esquina quando estava acontecendo e quase levei um tiro por isto. Phillip enfrentou o cara, mas acabou levando uma bala ele mesmo. Eu acho que ele vai ficar bem. Ele estava muito preocupado que esses perus chegassem para que pudessem descongelar a tempo para o jantar de amanhã ". Fiquei impressionado que ela me deixou dizer tudo isso sem me interromper. Eu deixei ela pegar a bolsa e ela bateu no balcão com os outros.
Ela balançou a cabeça. "Isso soa como Phillip", disse ela. Ela se virou para mim. "Qual o seu nome?"
"Noname".
"Noname. Ok, Noname, eu sou Isabel. Se Phillip estiver no hospital, estamos com falta de mão de obra. Vamos precisar de ajuda." Ela se aproximou, muito perto, a cabeça inclinada para trás para olhar para mim com aqueles olhos. "Você tem planos para o Natal?"
Eu não disse nada. Mas com certeza sorria.
Dicas e sugestões são muito bem vindas.
Até Breve!
🙂
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